Projeto IRMMA aprimora o gerenciamento de risco em Regiões Serranas do Brasil
A exposição da humanidade aos perigos naturais sempre foi uma parte inevitável da coexistência entre as pessoas e a natureza. A forma da superfície terrestre não é apenas o resultado de mudanças graduais do nível do mar, intemperismo das montanhas, a forma meandrante dos rios, mas também decorre das consequências de eventos geológicos e hidrometeorológicos abruptos, como terremotos, erupções vulcânicas, surges, tsunamis, tempestades, inundações, colapsos, etc. Tais eventos têm tempo de recorrência e dimensões diferentes, mas são absolutamente normais para o ambiente natural. No entanto, a vida na Terra e especialmente a vida humana precisa de um certo padrão de condições de conforto e equilíbrio, porém, nem sempre é dessa forma que ambiente natural provê. Dependendo da magnitude do evento, podem ocorrer situações que vão além das condições de conforto, rompendo com o equilíbrio dos sistemas humanos e que pode ser considerado um desastre, dado os impactos e prejuízos inesperados. A demanda crescente da população que está em expansão, somada ao desenvolvimento econômico, tem aumentado as áreas ocupadas e a intensidade das interações ser humano-natureza e, dessa forma, tem aumentando o risco natural (probabilidade de perdas) devido ao aumento de exposição das populações à tais perigos naturais. Soma-se a esses processos os efeitos das mudanças do clima, que desde o tempo presente já trazem evidências do aumento de eventos extremos de clima e tempo, tendência esta que deve ser intensificada no futuro em grande parte do globo. O progresso científico, por sua vez, torna possível entender revelar as relações entre as mudanças ambientais e características de alguns perigos naturais. As alterações antropogênicas do meio ambiente contribuem para as atividades, dimensões do perigo, condições desfavoráveis para a população e às atividades econômicas, paralelamente, às vezes, também podem ser levadas em conta no planejamento da expansão do uso da terra. As autoridades responsáveis, em muitos países, esperam que os especialistas forneçam sistemas de previsão automática e proponham medidas de mitigação eficientes, caso não consigam eliminá-las completamente no curto prazo. No entanto, os conjuntos de dados locais, normalmente utilizados para o desenvolvimento de correlações entre parâmetros ambientais mensuráveis, a recorrência e a extensão dos perigos naturais, não abarcam totalmente as variáveis de tais inter-relações em condições de mudança climática e ambiental. Entende-se que a combinação de conjuntos de dados locais, de diferentes países, associado ao intercâmbio de conhecimentos e experiências é crucial para o desenvolvimento da ciência de perigos naturais. Em resposta à Chamada, as três equipes de trabalho, do Brasil, Rússia e China, estão dispostas a unir esforços no desenvolvimento de abordagens em comum para o gerenciamento risco de desastres naturais. A intersecção do conhecimento se dá no campo da avaliação do risco de deslizamentos e de fluxos de detritos. Desse modo, esses dois tipos de perigos naturais foram selecionados para a análise e avaliação da vulnerabilidade social e econômica bem como sua resiliência correspondente, com a avaliação das técnicas de monitoramento e mitigação. Foram selecionados três estudos de caso em regiões altamente populosas, em diferentes condições ambientais: a costa do Mar Negro do Norte do Cáucaso (Rússia), as cabeceiras do rio Min (China) e o estado do Rio de Janeiro (Brasil). As contribuições esperadas por parte de cada equipe para a pesquisa em conjunto, se dará na avaliação de dados e análise de risco nas tarefas em conjunto em pesquisas de campo, avaliação de dados econômicos e da população, conforme segue: – Aprimoramento das metodologias numéricas para estimativa de parâmetros físicos de fluxos de detritos e deslizamentos e avaliação de riscos individual e social (Rússia); – Incorporação de dados de sensoriamento remoto por satélite no gerenciamento de risco de fluxos de detritos, especialmente a identificação de risco e o processo de monitoramento (China); – Mapeamento de deslizamentos e fluxos de detritos, cálculo de índices críticos de precipitação e sistema de alerta antecipado (Brasil) e; – Desenvolvimento de metodologias de gerenciamento de risco (Rússia, China e Brasil). As investigações propostas incorporariam os dados arquivados sobre processos naturais resultantes em eventos extremos e uso simultâneo em cada local, de diferentes metodologias de mapeamento, cálculo de parâmetros físicos e avaliação de risco, com base no que é utilizado por cada equipe em suas investigações locais. Isso permitiria realizar a validação das metodologias em diferentes condições e seu possível ajuste e combinação para uso universal e gerenciamento de risco. Os processos perigosos nas regiões selecionadas possuem múltiplos mecanismos de deflagração. Em geral, os fluxos de detritos são deflagrados por chuva intensa, porém, se sabe que a atividade sísmica contribui com a formação desses processos. Os deslizamentos também podem ser deflagrados por sismos, bem como pela umidade do solo em encostas. Ambos os perigos podem ser desencadeados pela combinação de eventos hidrometeorológicos e sísmicos, assim como pela atividade antropogênica. A grande variação da dimensão, extensão e do período de retorno de inúmeros deslizamentos e fluxos de detritos encontrados nas regiões selecionadas, está em uma ampla gama de valores e pode estar relacionada a uma variabilidade muito maior dos parâmetros climáticos do que qualquer projeção climática futura que cada local específico possa fornecer. Considerando os efeitos da mudança do clima, é proposto uma análise dos padrões dos eventos extremos deflagradores destes processos e, em um segundo momento, utilizar dados de projeções do clima para investigar as tendências dos impactos futuros. Não seria uma tarefa trivial desenvolver uma ferramenta analítica universal para as condições ambientais de todos os três países, permitindo extrair e combinar as informações sobre os deslizamentos de fluxos de detritos, incluindo as consequências socioeconômicas dos desastres, a partir do banco de dados locais, visando se tornar uma base para o planejamento da metodologia comum do projeto de gestão de risco de deslizamentos e fluxos de detritos, mas seria necessário para o desenvolvimento de uma abordagem holística no monitoramento de processos de deslizamentos e fluxos de detritos e lidar com suas consequências. Além disso, a metodologia desenvolvida pode ser usada em outras investigações de perigos naturais e suas estimativas. As principais características da pesquisa proposta são as seguintes: – Compreender os desastres com múltiplos mecanismos de deflagração e seus índices críticos de precipitação para o sistema de alerta antecipado; – Desenvolvimento de metodologias aplicadas de mapeamento de deslizamentos e fluxos de detritos e estimativa de seus parâmetros; – Abordagem socioeconômica e física abrangente para avaliação de riscos de perigos naturais; – Examinar a gama das condições ambientais de forma mais ampla do que nas investigações anteriores e; – Desenvolvimento de abordagens de gerenciamento de risco.